sábado, 14 de março de 2009

Primeira semana - parte II

Vou contar os detalhes... na segunda-feira, às 7 da manhã, eu peguei o ônibus para a Unicamp. O ônibus mais cheio (!!!) e tive de ir em pé... e descobri que um sinônimo para ônibus circular cheio é surf.
E quando você é solto em um lugar em que você não tem a mínima de como é que funciona, não há mapas que o ajude, não há gente que lhe passe uma informação certa. E, na boa, nem pense em tentar as coisas por si só. Eu tinha de pegar o ônibus perto do centro de educação física e fui parar na engenharia química... algo como oeste e leste, respectivamente.
Sabe aquela uma hora gasta para chegar na facul? Então, ela vira 20 minutos quando o ônibus está fazio.
E então vem os momentos em que você está sozinha no ap... com a música ligada, se perguntando porque diabos você só levou um cd e não tem pc para carregar o mp3, lembrando de como era bom quando tinha internet quando e onde quisesse, um carro para te levar aonde bem entendesse e lembra da sua carta que ainda não chegou... Nesses momentos que acontece algo que eu não tinha idéia do que era.
Você olha seu ap, vê o chão... poeira. Sua conhada é alérgica a tudo. Fios de cabelo - tudo bem, você mora com mais 3 mulheres, nada mais normal que ter cabelos no chão. Você sabe disso por experiência própria. As outras 3 mulheres trabalham, uma acorda 5:30 da manhã, e elas lidam com crianças - e você ali, deitada no sofá improvisado, bebendo a água gelada que esqueceu na geladeira, se perguntando por que diabos não levanta e devora o potinho de Nutella (e aí vem o histórico de doenças genéticas da família).
Cara, acredite, se você pensou tudo isso, você está fudido. É, porque você vai levantar e vai pegar na vassoura e, pior!!!!!!, vai varrer.
Eu varri. E constatei que tinha de lavar a louça da pia e que precisávamos de um rodinho de pia e de uma pá maior para catar lixo, porque a que tem lá no ap é tão, mas tão pequena que você não vê e sai para comprar uma, não encontra, volta e tenta pegar a sujeira com uma folha de papel universitária.
Universitária porque agora você é universitária e as folhas são para usos universitários.
Ok, tem quando você decide sair de casa porque não aguenta mais ficar no ap. Aí complica tudo! Você não tem nem idéia do seu endereço, nem sabe andar na cidade e não vai se arriscar a pegar um ônibus. O que fazer? Pegar a rua da sua casa e ir andando, reto - sempre! E se virar, lembrar onde virou para fazer o mesmo caminho!!!! O mesmo, grave bem isto.
Aí você encontra váááááárias lojas orientais - administradas por, quero dizer - e pergunta para alguns onde há uma lan house por perto. Ninguém sabe porque ninguém entende a sua língua - oi?! - é, é exatamente isso. Você decide por comprar brincos, relógio, canetas e papel - ah!, sim, você tem tara por artigos de papelaria. - e cremes para os pés.
O QUÊÊÊ???? CREMES PARA OS PÉS? Mas você tem asco a pé! Por que afinal vai querer hidratá-los agora? Aí você se lembra o motivo... poluição, pés descalços... é, faz uma semana que seu pé está seco (tá certo que ainda estamos na terça-feira).
Você compra os malditos cremes para os pés, enfrenta uma fila enorme (em vários sentidos... é, galera, a população está ficando obesa), paga e um cara tem a coragem de perguntar onde fica o pronto socorro para você. Será que sua cara de bixo não é transparente o suficiente para notarem que você não pertence à cidade? Você se lembra do cara do ônibus (vide "Razões", no quadra ao lado) e conclui que não ¬¬ .
Volta para casa, dorme, sua conhada chega e ela te leva para conhecer o bosque ali perto, vão ao centro fazer compras - e você volta para onde esteve à tarde. É a vida... No bosque vocês dão 3 voltas (caminhada) enquanto um cara que está correndo passa por vocês 20 vezes. Há serelepes soltos por lá, mas eles também são cutias - aí depende do cartaz que você pára afim de se localizar. Vocês vão até uma galeria e compram quiabo, limões, aveia, palitinhos de chocolate, sal e ovos.
Voltam para casa e você descobre que tem uma lan house a meio quarteirão do ap - só que, claro, não por onde você rondou a torto e direito à tarde. Vai para lan e só volta às 20:45... Uma hora e vinte de pc por R$1,57.
É caro? Não tenho nem idéia. Whatever também...
Na quarta, você acorda às 6 horas, toma banho e vai para o ônibus. Você até consegue sentar, mas quando cai lá, sozinha e de novo, se pergunta aonde tem de ir. Quando chega no prédio do IFCH, o pessoal até que é legal. Eles conversam com você, mas nada de se socializar. Você estranha a normalidade do pessoal do curso - pelo menos fisicamente - e encontra pessoas que lembram outras. A exemplo seu ex. É, tem um cara que é igualzinho a ele e até ri igual - e você quer ficar olhando para ele para tentar desvincular aquela imagem, porque, convenhamos, o guri é engraçado e simpático, você não pode desgosta-lo porque ele lembra seu ex. Só que, óbvio, você não pode ficar encarando o garoto.
A aula é tranquila, vocês conversam sobre Sócrates, sofistas, charlatões, Aristófanes, Nietchzen, Platão... e é hora do almoço. Só que você tem de resolver questões como o não cadastramento do seu RA na biblioteca, comprovar que você está matriculada na Unicamp, pegar senha na DAC para conseguir o comprovante de matrícula... Você pega a senha, mas sua fome é maior. Desiste dela e vai comer.
No bandejão, descobre que carne é carne, e não é frango, ou bife ou peixe. Mas, tudo bem, afinal, você não come carne mesmo. AH!, sim... você tem de equilibrar a bandeja numa mão, pegar talheres, guardanapo e copo com a outra... só que você, boa estudante do ensimo médio que foi, sabe que se segurar a bandeja na ponta, terá de fazer muita força com o braço - e, lembre-se: há feijão, arroz, pão e banana sobre ela! -, então, convenhamos que, se há a pequena possibilidade desse troço cair no chão, não vai ser legal e todo mundo vai rir de você e te zuar pelo resto de sua mediocre vidinha acadêmica. E, oi, você já é bixo, não precisa ser mais zuado. Logo, você opta pela alternativa de usufruir menos da força do braço esquerdo (ah!, sim, você é destra, então, há grande chances de seu braço esquerdo ser o mais fraco - e lembre-se também que você está com a sua mochila). Em outras palavras: você espalma o centro da bandeja de alumínio e se lembra de uma forma absurdamente rápida que o feijão e arroz estão quente. E você ainda tem de pegar a salada... e descobrir que ela é temperada com pimenta.
Muita pimenta.
Você termina de comer e encontra o pessoal do seu grupo, só que ainda tem de enfrentar a fila da DAC de novo... e você vai lá. Fica meia hora naquele treco, pega o comprovante de matrícula, vai atrás de um xerox porque eles não te dão dois comprovantes (é, você se lembrou que tem de levar um na rodoviária) e voltar para eles carimbarem o xerox. Ou seja, você enfrentou a fila da DAC 3 vezes!
Você tem aula de latim na sala CL18. Você, prestativa, não deixa para a última hora, então, decidi descobrir onde é com 20 minutos de antecedência... e você vai parar no centro de linguagens - só que lá é para estrangeiros e você, óbvio, bixo que é, não sabe. Tem um grupo de orientais se aproximando e você não pensa duas vezes para pedir as informações - e, de repente, você se vê envolto de 6 japas falando em japonês.
Gentilmente você agradece (pensando que se tivesse mandado eles tomarem no cu teria tido o mesmo resultado) e vai para o centro. Lá, com alguém que fala português, descobre que, óbvio, é o lugar errado. Encaminham você até o IEL, Instituto de E? e Linguagens. E você descobre que o prédio só vai até a sala CL17 e que, na verdade, sua sala é a CL01, só que não vai ter aula porque a professora está doente (seu irmão, mais tarde, dirá que é porque ela fumou muita maconha... e você não quer concordar, mas algo aí dentro não vê falhas na suposição dele).
Você decide então tirar os xerox restantes... e deixa 40 conto na faculdade facim facim. E quase deixa outros 40 caso não fosse a sua coleguinha solidária que encontrou um exemplar do livro esquecido lá nas prateleiras da biblioteca. E claro você tem de lê-lo para o outro dia.
Na verdade, são só os 3 primeiros dos 6 capítulos - As Meditações, Descartes -, mas, ao folhear o livro, você descobre que aqueles 3 que não precisam ser lidos equivalem a 1/4 do livro. Ou seja, você está fudido.
Na volta para casa, o ônibus leva 1:12h... e você chega morto! Nem toma banho, cai direto no colchão - colchão, porque você ainda não tem cama. Ah!, nesse meio tempo respondem a sua mensagem, e vocês trocam umas 3 mensagens, mas, sinceramente, você não quer mais... não tem forças nem para movimentar os dedos.
Acorda 7 horas na quinta para ler aquele livro. Você lê, mas não tem nem idéia do que se passa no 3º capítulo, porque está com sono. Obviamente, você termina de ler e vai dormir. Depois acorda e lembra que hoje o almoço é por sua conta. Tem que descongelar o feijão... porra, como é que se faz isso? Da última vez que você julgou saber algo das artes culinárias, sua couve não refogou, queimou e ficou dura. Liga para mamãe, claro. Ela já te liga 3 vezes por dia, não vai ficar chateada se você ligar desta vez - mas você sabe que contabilizarão 4 ligações nesse dia, e não 3.
É, para descongelar é exatamente como você imaginou: água e fogo. Mas tem o omelete, porque a abobrinha que ficou na geladeira na noite anterior sumiu. Você se lembra de terem feito isso na sua frente... ovo, óleo, sal, cebola... ahn, já era então.
CLARO QUE NÃO IA DAR CERTO! O negócio queimou e você só tem aquilo para comer. Faz um suco, lota de açúcar e seja o que Deus quiser. Lava a louça, guarda tudo, escova os dentes e bora pra facul. No ônibus, há um cheiro estranho de queimado no ar e você só consegue se lembrar do omelete que não deu certo.
Whatever, depois você come algo gostoso à noite.
Na aula... bem, redação filosófica é legal, mas seu professor é mui estranho. Além de falar absurdamente rápido e copo, corpúsculo e logos serem palavras que não se ditinguem na dicção dele, você busca na sua cabecinha algo como fazer um curso de símbolos para entender a letra do cara na lousa. Não, não tinha... então reza para que ele continue a ditar o que escreve. Ah!, sim, lembra daqueles 3 capítulos que lhe custaram uma manhã para serem lidos?? Pois bem, eles gastou 2 horas só nos 2 primeiros parágrafos e somente aí você percebe que o buraco é mais embaixo.
No intervalo, à princípio, você fica sozinha, mas aos poucos as pessoas se reunem ao seu redor e vocês conversam.
O mocinho está ali, do seu lado, sentado e fazendo comentários engraçados - e você, comentários pertinentes. Ele é igualzinho ao outro, fisicamente, mas o astral deste é melhor. Na volta para casa, as coisas voltam. Os beijos, os abraços, as palavras, olhares, as mãos dadas, as promessas... e você volta a se perguntar como seria hoje se não tivesse terminado. De novo, você conclui: não levaria a nada, vocês tropeçariam em algum momento, não importando o quando.
Em casa, você descobre que seu irmão está ali. Você conta para ele como foi, menciona de leve o fato de ter alguém igual ao ex - e você se lembra que no domingo à noite sua conhada lhe contou que ele esteve na festa que você deveria ter ido, mas preferiu sair com uma amiga para encontrar um outro depois, e ela lhe fala que ele nem a cumprimentou.
Você manda tudo à merda e dorme.
Sexta-feira... você, seu irmão e a conhada voltam para casa. Sua carta chegou e, para completar a semana, você reencontra o ex, mas, foda-se, agora você tem a sua CNH e a noite é uma criança.

Um comentário:

  1. hey bru, só de ler o começo eu já começava a te amar - quando terminei eu tinha certeza

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